domingo, 2 de fevereiro de 2025

As práticas educativas: tarefas da família ou da escola?

 José Benedito de Barros*


Às vezes fico perplexo com algumas afirmações sobre educação, principalmente quando se nega que seja papel da escola educar os alunos. Essa tarefa, segundo uma certa visão que circula em redes sociais, seria da família, dos pais. A escola teria a tarefa de abrir as portas do conhecimento. Então, a família não abre as portas do conhecimento? E a escola não educa?

Isso soa muito confuso para mim. Assim, em vez de mergulhar no mundo conceitual da educação para poder me posicionar sobre o que é educação e o que não é, bem como as tarefas educativas e não educativas dos pais e da escola ou vice-versa, prefiro enveredar pelo caminho das práticas educativas ao longo da história.

Já advirto que este escrito não é uma produção científica, mas apenas a externalização do que vislumbro sobre um tema tão relevante. Claro que essa externalização tem como base minhas leituras e produções acadêmicas, sobretudo, minha dissertação de mestrado. Aqui, especificamente, trago à baila o pensamento de Norbert Elias (Sociedade dos Indivíduos e o Processo Civilizador), bem como as contribuições do marco legal sobre educação no Brasil, sobretudo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/1996).

 

Estudos recentes e produções de conhecimento mais antigas indicam que nas sociedades mais simples (grupos sociais pequenos e coesos) a transmissão dos saberes ocorre predominantemente de forma informal, nas vivências do dia a dia da família e da comunidade local, através de histórias contadas e recontadas pelos mais velhos aos mais novos, por meios de práticas laborais e hábitos culturais. Dessa forma todos os saberes acumulados e necessários para manutenção e desenvolvimento do grupo social são transmitidos, cultivados, desenvolvidos e ampliados. Não há escola ou outra instituição separada da família e da comunidade local com a tarefa de ensinar os sabres necessários às novas gerações.

Mas...

Os grupos sociais, pequemos e coesos tendem a se ampliar e, à medida que isso ocorre, tornam-se maiores e menos coesos. Não mais tão simples, mas mais complexos. Os pais, a família, as comunidades locais já não conseguem dar conta de transmitir às gerações mais novas os conhecimentos acumulados. Assim começam a ser criadas agências de transmissão de conhecimentos, instituições especializadas para cumprir as mesmas tarefas antes executadas pelos pais, pela família e pela comunidade local: surge a escola.

Sem querer concluir, já se pode vislumbrar que a relação entre pais/família e escola não pode ser de separação. Da mesma forma, as tarefas de transmissão dos saberes do grupo social/comunidade/sociedade também não podem ser atribuídas exclusivamente a uns em detrimento de outros. Seria mais prudente, talvez, ver aí uma relação de interdependência e de complementariedade. As práticas educativas, nesta visão, seriam incumbência de todos e de cada um, para o bem de todos e de cada um.

 

Referências:

BARROS, J. B. A identidade dos gestores escolares negros. Rio Claro/SP: UNESP, 2006 (Dissertação de Mestrado).

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/1996.

ELIAS, Norbert. A sociedade dos indivíduos. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994

ELIAS, Norbert. O processo civilizador. O processo civilizador (I): uma história dos costumes. Trad. Ruy Jungmann. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994.

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*José Benedito de Barros, Mestre em Educação, Especialista em Educação Especial, Licenciado em Filosofia, Especialista e Bacharel em Direito. Assessor Educacional, Professor de Filosofia, História e Direito, Analista Filosófico e Jurídico. Comunica-se em Português e em LIBRAS (nível intermediário). Lê em inglês e espanhol.

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